Burocracia e peregrinação por atendimento médico em Canoas




As redes sociais nos permitem ficar conectados aos amigos, mesmo que eles não estejam presentes ao nosso dia a dia.


E assim, compartilho abaixo o relato do meu amigo e ex-colega de trabalho Herbert Fritsch, que é morador de Canoas e que passou por uma verdadeira peregrinação para solucionar um problema simples de saúde.

O que mais me assombra no relato é que vemos diversas propagandas e políticos de Esquerda espalhando aos quatro ventos de como a Saúde de Canoas é modelo para o Rio Grande do Sul, e pelo relato do Herbert chego a conclusão que é modelo sim, modelo de burrocracia.


Eis o relato:

Quando eu tinha 15 ou 16 anos tive Bicho-de-pé. Foi na praia durante o verão. Nessa ocasião senti muita coceira e com o auxílio de uma agulha de costura e de conselhos dos mais velhos, removi o tal do dedo do meu pé.

A mais ou menos um mês atrás, senti um desconforto na ponta do quarto dedo do pé esquerdo com coloração avermelhada. Verifiquei que havia um minúsculo ponto (parecido com aquele de 14 anos atrás) no centro da parte avermelhada. Novamente com o auxílio de uma agulha tentei fazer o procedimento e não conseguindo remover nenhum animalzinho do meu pé dei o caso por calo, pois não sentia dor nem coceira alguma.

Algum tempo depois, aumentando o desconforto percebi que a vermelhidão aumentava e um processo inflamatório iniciava ainda sem dor. Uma olhada mais atenta e percebi que tinha algo de errado ali. Com a agulha novamente constatei que tinha algo no dedo e pela profundidade não teria como fazê-lo sozinho, sem auxílio médico.

Assim, busquei atendimento na Unidade de Pronto Atendimento do bairro onde moro em Canoas, a UPA Niterói. Ao chegar na Unidade informei o que achava que tinha, passei pela triagem onde tive a pressão arterial e batimentos medidos. Respondi a mais algumas perguntas, contei porque demorei um mês para procurar auxílio e aguardei o atendimento pelo médico. Assim que entrei no consultório, o clínico geral quis saber o motivo de tê-lo procurado. Expliquei que achava que fosse bicho-de-pé e contei toda a história do último mês, novamente. O Dr., após olhar pro meu pé e tendo concordado, orientou-me a ir ao Posto da Praça do Avião (Unidade Básica de Saúde Avião) onde teria um Ambulatório de pequenos procedimentos cirúrgicos para remoção do inquilino.

No manhã do dia seguinte, fui à UBS Avião e chegando lá fui informado que nesse posto o tal ambulatório cirúrgico não existe a pelo menos 8 anos. Contudo, fui orientado a ir num ambulatório de feridas, no mesmo prédio. Chegando, após informar a médica e a enfermeira sobre meu caso, recebi a resposta de que esse ambulatório não faria o procedimento do qual eu necessitava. Fui orientado a ir ao Hospital Nossa Sra. das Graças.
Chegando ao hospital, fui informado que lá havia apenas um Clínico Geral no plantão da emergência e este não realizaria tal procedimento. Fui orientado a ir ao Hospital de Pronto Socorro de Canoas.

HPS Canoas - Chegando lá, ao ter minha senha chamada no monitor, me dirigi a sala de triagem. Respondendo a pergunta da enfermeira sobre o que eu tinha, esta ao ouvir "bicho-de-pé" devolveu-me meus documentos e informou que eu deveria ir a um posto de saúde (UBS). informei que já havia feito isso na noite anterior e na manhã do mesmo dia. Ela reforçou a informação e disse que eu deveria ir a uma Unidade Básica de Saúde e não na UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Fui embora novamente.

Me dirigi à UBS - Vila Fernandes, próxima ao Bairro onde moro. Após contar toda a minha situação novamente, fui assistido por uma enfermeira que muito solicita olhou meu pé e disse que tinha muita experiência em remoções de Tundra Penetrans (bicho-de-pé) mas que esse procedimento estava proibido de ser realizado nas UBS's. Mesmo assim me ajudou entrando em contato com a UPA - Niterói. Ela conversou com o coordenador da UPA Niterói não tendo resolvido o impasse. Pois a UPA não reconhece o procedimento como de sua responsabilidade e a UBS tem orientação de não fazê-lo em hipótese alguma. Orientado pelo pessoal da UBS Vila Fernandes, fui à Secretaria de Saúde de Canoas na intenção de conversar com a equipe de Ouvidoria.

Na Ouvidoria fui informado de que a orientação era de que eu ligasse para o 0800 para agendar uma consulta com Clínico Geral e na consulta pedir encaminhamento para "Procedimento Cirúrgico Ambulatorial". Fui informado ainda de que esse processo poderia levar no total, em torno de um mês. Não satisfeito com a resposta fui embora.

Voltei a UBS Vila Fernandes, já meio desnorteado e lá recebi a sugestão da mesma enfermeira que me auxiliou anteriormente de que eu fosse até a UPA Rio Branco, que é administrada pelo Grupo Mãe de Deus e não pelo Hospital Nossa Senhora das Graças, como é o caso da UPA Niterói. Lá novamente fui barrado na triagem e até uma explicação me deram de que as salas não eram preparadas para tal procedimento. Orientaram-me a ir ao posto de saúde mais próximo, a UBS Fátima.

Chegando na UBS Fátima me deparei com um ambiente decadente com armários e arquivos quebrados, enferrujados e balcões de madeira com sinais de cupim. Além das paredes por pintar. Mas ali, mesmo com as condições de trabalho que médicos e enfermeiros convivem, foi onde tive um dos melhores atendimentos. Fui examinado pela médica e um enfermeiro. Tendo compaixão a médica contatou um Cirurgião do HPS de Canoas e esse aceitou me atender. Assim retornei ao HPS com encaminhamento em mãos e desta vez, informando na triagem sobre o contato feito com o médico que me aguardava. Depois de umas duas horas de espera e um dia inteiro procurando atendimento médico, fui atendido. Meu dedo anestesiado, procedimento realizado, curativo feito, Vacina Anti Tetânica realizado como reforço por garantia.

Agora braço dolorido pela vacina, mas o dedo ótimo, cicatrizando. Pretendo encaminhar a reclamação à Ouvidoria da Secretaria de Saúde de Canoas para esclarecimento e alinhamento sobre o tipo de procedimento e quem deveria tê-lo feito.

Desculpem-me quem não tem nada a ver com isso, mas precisava.


Nenhum comentário: